domingo, 9 de dezembro de 2012

Mais doisl ivros lançados pela Editora Peiropolis


Mais dois livros lançados pela editora Peiropolis, uma editora preocupada com as minorias e que dá espaço a essa parte da sociedade brasileira.

* A origem do Beija-flor - Livro Bilingue Portugues-Maraguá que mostra a sociedade brasileira o lado humano e simples de um povo cuja lingua corre risco de extinção.

* Contos da Floresta - Livro que narra contos engraçados e ao mesmo tempo assutadores, igual e da mesma forma que os contadores de historias indigenas contam aos seus filhos aos pores-de-sois em suas aldeias.

Uma homenagem de Yaguarê Yamã

Um verdadeiro livro de tematica indigena e brasileira

                    Um dos mais mais lindos livros de minha autoria, que mostra de uma maneira clara e objetiva aos adultos e crianças do Brasil a melhor pratica da Lingua Tupi, a verdadeira lingua Brasileira.
                      A editora Pallas, grande divulgadora da cultura afro-brasileira, agora aporta no universo da literatura Indigena com o livro FALANDO TUPI, de minha autoria, vale lembrar da importancia que se deve dar ao escritor nativo. O conhecimento de dentro é a certeza do cuidado com a verdade sobre a tematica.
                     As ilustrações de Geraldo Valerio trasnforma esse livro no icone da atualidade no que há de melhor da literatura infantil e de tematica indigena.
 
 
Por Yaguarê Yamã

sábado, 8 de dezembro de 2012


PORTUGUÊS NÃO! LINGUA BRASILEIRA



... PRONTO! FALEI.


                            Não sei por que pessoas que se autodenominam cultas não reconhecem a língua brasílica? Essa língua tão bonita, formada a partir das entranhas da língua portuguesa e mescladas com o Tupi antigo e línguas africanas. Teimam em chama-la de Língua Portuguesa, alguns para não exagerar no erro, tentam o jeitinho brasileiro e a chamam de “Língua Portuguesa do Brasil”. Mas ai vem em mim a duvida: O português não é único? Por que então há um português europeu e outro no Brasil? Alguém me disse um dia que o motivo do não reconhecimento é puramente politico. Não querem desvincular-se da cultura portuguesa. O interesse em manter-se atrelado ao português como parte do português é geopolítico, vendo nisso uma maneira mais fácil de manter em evidencia. Para mim é desculpa. O Brasil é bem mais influente que Portugal e já a tempos que é o que é: potencia mundial. Acredito por alguns motivos que ele carrega Portugal e sua cultura portuguesa nas costas. E sozinho. Parece até que a metrópole era o Brasil e a colônia era Portugal. Não sei também porque motivo meus ancestrais os índios do Brasil se deixaram colonizar-se por tão pouco. Tão pouca gente, tão pouca solidez e por um pequeno reino nas bordas da Europa, exprimido nas falésias do continente, nos barrancos ocidentais do mesmo. Os nossos eram muitos, mas ai é que está o erro: A ignorância nos faz pequeno e a desunião nos transforma em fracos. Porem isso já faz tempo, não dá mais para voltar atrás. Entender a história é que hoje é valido.

             Aí volto à questão da “Língua Portuguesa do Brasil”.  Eu que sou professor de geografia para o ensino médio, na rede estadual de ensino no estado do Amazonas, observo os alunos se esforçarem em aprender na escrita a oficialmente chamada “norma culta”. Sem entender o porquê de estuda-la sendo que não a praticam no cotidiano. Uma vez, um deles me disse: - Os portugueses é que são inteligentes: Sabem falar português tão bem na norma culta! Enquanto isso, nós brasileiros, poucos a falamos, só falamos errado... Nesse linguajar das ruas.” Mas pensando bem... A resposta é obvia. É esse “linguajar das ruas” que é a nossa língua verdadeira. E não só o linguajar das ruas, mas o linguajar das favelas, das roças, dos rios, dos sertões, dos pampas, dos pantanais, dos centrões, dos igarapés... Nas mais altas favelas do Rio de Janeiro, passando pelos baixos campos gaúchos até as longínquas regiões da Amazônia brasileira, onde possa habitar um “matuto, um malandro, uma mano, um gaúcho, um pantaneiro, um caboco” um caipira, um “arigó”. Juntando todos eles é que formamos a Nossa Língua. A Língua brasílica – a língua dos brasileiros. Não a que estudamos. Língua culta para nós, é a língua do cotidiano dos portugueses. E aqui nós precisamos nos esforçar para atua-la. Isso não é um exagero? Se torna fácil para um português por ser obvio. A língua é portuguesa e por tanto é língua dos portugueses, não é língua dos brasileiros, a língua dos brasileiros está aqui: “Amigo, me dá um cigarro...” ou “amigo, mim dá um cigarro...” E isso infelizmente não é valorizado. As autoridades ignoram nosso verdadeiro idioma, os intelectuais da linguística, “senhores absolutos do Português e seus fieis escudeiros” a suprimem desde sua origem (favelas, ruas, florestas, sertões...) e retaliam a todos que ousam afronta-la na sua norma mais “pura”.  Assim, nós mortais e subjugados brasileirinhos acorrentamo-nos atrelados a esse vicio de viver papagaiando o sintaxe lusíada.

                                                                                                       Por Yaguarê Yamã

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Um livro que mostra as belezas do povo Maraguá

Um novo livro dos autores indigenas Yaguarê Yamã e Lia Minapoty é lançado.

Trata-se do " A arvore de carne", publicado pela editora Alaude através do Selo Tordesilhas.
Com visões amplamente indigenas seguindo as caracteristicas de contar historias tradicionais, buscamos com isso aprofundar mais os laços  entre a cultura indigena e a sociedade não-indigena.

 Esse é um livro que nos fez repensar muito de nós como lideranças indigenas e nossa atuação como autores.
Um livro que mostra a cultura indigena e seu vinculo com a terra e com a esencia da natureza. Acredito que de todos meus livros, esse é o que completa ou une o que há de mais especial da inspiração indigena com a literatura. 

Agradecemos a todos os que nos apoiam e atuam para fazer da literatura indigena mais divulgada e valorisada. Um agradecimento em especial a nossos amigos Leda Cintra, Joacyr Pereira Furtado, Daniel Munduruku, Daniel Gulassa, Cristino Wapixana, Denise Cantuaria, Renata Borges, Edina Martins, Ione Melonne Nasar, Suzi Sertã, Ciciliane Alves, Luis Helmister, Rene Kintawlu, Tino Freitas, Ana Paula, Andrea Monteiro, Joyce Belyt, Olivio Jekupé, Elias Yaguakãg, Uziel Guayne, Lucia Mynssen, Rafael Crespo e Mariza Foá.
A arvore de carne
Editora Alaude (Tordesilhas)

Autores: Lia Minapoty e Yaguarê Yamã
ano: 2012

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A LENDA DO KAWÉRA


                        Kãwéra que em língua maraguá significa “esqueleto velho” é uma entidade da mitologia Maraguá. Ser horripilante, dá arrepios nos ouvintes das tradicionais narrativas noturnas, hora em que a aldeia, quieta, ouve com atenção as antigas historias de “visaje” contadas por dezenas de “morõgetánhe~gaçara” (contadores de historias maraguá)- mestres das narrativas e especialistas em deixar os ouvintes de cabelo em pé.
                        Temíveis homens-morcegos, os Kãweras são sedentos de sangue e famintos de carne-humana. Raça de seres malignos e perseguidores dos maraguás, por isso mesmo, seu maior inimigo no campo místico e religioso.            
                       Implacáveis caçadores de gente, os Kãweras receberam originalmente o nome de Zorak, o que em língua maraguá quer dizer: “filhos do demônio”. Esses foram os primeiros morceganjos.
                     Menos humanos que os atuais, os Zorak eram criaturas lúgubres, metade gente metade morcego e habitavam as escuras cavernas da ilha que fica em meio ao lago sagrado Waruã, um lago encantado de águas escuras, que nunca está dois dias num mesmo lugar, pois desaparece sempre após os por-de-sois e que existe desde o inicio da criação do mundo quando Gwaziry, filho de Monãg, criando os rios, deixou escorrer parte da água que corre nas profundezas do submundo Pa’ãguáp, morada de Anhãga, o deus do mal e inimigo de seu pai, o senhor do universo segundo a religião Urutuópiãg dos maraguás.
                   Foi na época em que o semi-deus Gwaziry ainda  habitava entre os humanos que eles foram  criados. Anhãga foi quem os fez a partir do sangue de seu dedo empuquecado com a erva sagrada anhãga’pyra’ãga. Dessa mistura nasceram os Zorak.
              Os Zorak enxergavam pouco. Talvez seja por isso que segundo a lenda não puderam impedir sua extinção frente a esperteza dos heróis Ebenzekê, Parket e Ezayerê únicos humanos que ousaram enfrentá-los.
               Eles efetuaram uma matança geral e puseram fim em sua moradia no lago sagrado, porem não impediram a fuga de Ezamume, seu líder máximo, que fugindo, voou até a cabeceira do rio Kãwera e lá criou uma nova colônia.
              Ezamume, desde que foi derrotado pelos maraguás e precisou fugir pelo teto, enquanto os quatro heróis abatiam seus iguais com fortes tacapes e ateando fogo na caverna, procura se vingar, atacando os índios que se encontram distante das aldeias ou próximo ao seu atual refúgio – uma gigantesca arvore localizada na cabeceira do rio Kãwéra, afluente do rio Abacaxis.
             Ele perdeu a batalha, mas não a guerra. Voando em direção a cabeceira do rio Kãwera, no caminho pousou sobre uma aldeia onde agarrou com suas enormes garras uma mulher índia chamada Potãga e a seqüestrou. Com essa mulher ele teve relações e passado dois anos, já não era somente Ezamume, mas uma porção de filhotes de morcego-gente, todos parecidos com ele e com   sua mulher, dando origem a uma forma mais humana dos Zorak, pois alem de terem o poder do pai, tinham o DNA da mãe. Dessa maneira aparecerem os Kãwéras.      
              Os Zorak atuais continuam vivendo como Ezamume, dentro de uma gigantesca arvore, servindo-se de buracos fétidos para entrar e sair, momento em que vão caçar gente para seus banquetes. Sua aparência não é muito agradável: Mistura de morcego e gente, tem a cabeça de cachorro e os braços grudados a grandes asas pretas das quais se prolongam enormes garras. Seus olhos chispam fogo e sua língua tem formato de língua de serpente, assim como sua calda. Dizem também que são poucos, mas que em tempos antigos eram muitos, e suas colônias dominavam todo o percurso do rio Abacaxis.
               Quanto a Ezamume, mesmo depois de muito tempo, ainda vive. Dizem que gostou tanto de ter relações com humana que desde que seqüestrou Potãga, já fez filho em dezenas de mulheres índias e algumas brancas, dando origem a Kãweras brancos, também chamados de Albinos, esses, dizem, são os mais malvados, e preferem atacar povoações não-indias, de pessoas recém chegadas a floresta.
             Hoje Ezamume já está velho, pouco sai do buraco da grande arvore, prefere esperar que seus filhos tragam carne fresca em seu paradeiro.
                Certa vez, um grupo de caçadores Maraguás tentando chegar a cabeceira do rio Kãwera depararam-se com uma enorme arvore. Então se lembraram da lenda contada de geração em geração, desde os mais antigos malylis (como são chamados os pajés na língua maraguá) e constataram sua veracidade.
              Tentaram continuar viagem, mas quanto mais se aproximavam da arvore, mais sentiam um forte cheiro de urina de morcego. O fedor era tanto que suas cabeças começaram a doer de uma tal forma que mal podiam caminhar. Alguns deles chegaram a cair no chão atordoados, mas foi só.
              Sem ter como continuar, deram meia volta e ainda viram um enorme buraco em cima do grosso tronco daquela arvore assustadora.
               Contaram o acontecido ao malyli da aldeia e ele confirmou: - É lá a morada de Ezamume e dos seus filhos.
            Nunca mais houve outra expedição para aquelas bandas, mesmo porque convictos de sua existência, os maraguás não ousam chegar próximo de Ezamume. Seu nome realmente mete muito medo. Nas historias tradicionais contadas aos por de sois, seu nome é respeitado e muito temido. Muita gente prefere ouvir historias de qualquer “bicho” a ter que ouvir historia de Kãwera e conseqüentemente sonhar com Ezamume – o medo mais profundo de qualquer um.